Podemos dizer que é afortunada a criança a quem a mãe, desde seus primeiros dias de vida, proporciona experiências musicais. Essas primeiras experiências contribuem para que mais tarde ela tome gosto pela Música. A Música, como qualquer outra Arte, é cheia de significado, quando é primeiro "aprendida" e não "ensinada". O divertimento vem primeiro; a técnica o segue. O amor pela Música pode ser desenvolvido desde os primeiros dias estendendo-se por toda a infância.
O que é Arte ? Como e a quem traz vantagens ? Podemos dizer
que a Arte é simplesmente um meio de criar, de fazer coisas que concorrem para
tornar a nossa vida diária mais agradável, mais satisfatória. Toda pessoa, ainda
que variando a maneira e a intensidade, é, ao mesmo tempo, um artista e um
apreciador de Arte. Como artista, é o executor que combina a perícia com
sensibilidade às qualidades das coisas. Tanto a execução como o resultado lhe
trazem satisfação. Se alguém admira seu trabalho, ele está pronto a dizer:
"Passei momentos maravilhosos fazendo isto". Como apreciador de Arte, está
continuamente refletindo sua sensibilidade nas obras que seleciona e adquire
para seu próprio uso e satisfação. Seja ele artista ou apreciador, o motivo que
o impele é o mesmo: buscar experiências que sejam interessantes, variadas,
expressivas e satisfatórias. Assim a Arte não está ligada a alguma coisa remota,
a algo que tenha de ser visto ou ouvido em passeios ocasionais a museus ou
salões de concerto. A Arte é um modo de vida que contribui para o divertimento e
satisfação no lar, na vizinhança, na escola e na comunidade.
A Música é uma Arte séria que deve ser ensinada às crianças
ou uma série de deliciosas experiências a serem compartilhadas com elas? Quantos
adultos já não terão acompanhado o desenvolvimento de seus filhos e crescido
também com eles através do prazer proporcionado pela Música?
O tradicional método das lições formais para iniciar o
ensino da Música vem sendo usado logo que a criança, conseguindo alcançar o
banco do piano, encontra prazer primeiro nos sons que ela mesma tira e, mais
tarde, nos acompanhamentos rítmicos para as suas canções. Uma criança tocou no
piano, com um dedo de cada mão, e conseguiu uma agradável combinação; chamou a
mãe e disse-lhe: "Não é bonito?" Este entusiasmo, em vez de ser participado pela
família, foi interpretado como significativo gosto para as lições. Assim a
criança foi levada a um professor de piano para a sistemática introdução dos
primeiros conhecimentos musicais. O que ela realmente desejava era ter
oportunidade de, tocando e ouvindo, criar novas combinações sonoras agradáveis.
Viu-se, no entanto, obrigada a estudar e praticar para fins tão remotos, que
perdeu o interesse e a Música tornou-se uma obrigação em vez de um prazer.
Há, naturalmente, uma ocasião em que os ensinamentos de um
técnico serão muito importantes no desenvolvimento artístico da criança. Agora,
como pequena artista que é, está mais interessada em tocar livremente do que em
ficar sob os cuidados de um mestre. É tal qual a criança que, quando interrogada
sobre o novo livro que recebeu, retrucou solenemente: "Ele fala muito mais sobre
os pingüins do que eu desejaria saber". Talvez nesses primeiros anos de vida da
criança seja o adulto que necessite recuperar sua perícia nos instrumentos a que
se dedicou há anos atrás. Seus esforços de amador serão bem recompensados pela
satisfação de proporcionar maiores oportunidades à família de se divertir com a
Música. Para o pai que já é um verdadeiro musicista, há a oportunidade assaz
agradável de descobrir quais as músicas que serão apreciadas, não só pelos
adultos como também pelas crianças.
Os pesquisadores da Música e os especialistas no
desenvolvimento da criança chegaram à conclusão de que o divertimento pela
Música, é mais importante do que a imposição de técnicas na primeira infância.
As lições propriamente da Música. devem ser proporcionadas à criança dos oito
anos de idade em diante, dependendo de que ela deseje, realmente, aprender,
tenha boa saúde, coordenação-motora, seja ajustada social e emocionalmente, e
outras condições.
Fonte: Helen Christianson, em The Child's Treasury. Tradução de Dinah Bezerra de
Menezes, Coleção "O Mundo da Criança", Editora Delta, Rio de Janeiro, texto original no site Portal da Família - www.portaldafamilia.org.br
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