Na Declaração do Milênio das Nações Unidas, a solidariedade foi reconhecida como um dos valores fundamentais para as relações internacionais no século XXI.
Para homenageara esta data publicamos abaixo texto de autoria de Sérgio Freire.
SOLIDARIEDADE
A vida é vivida a partir de parâmetros. Configuramos e reconfiguramos valores e conceitos ao sabor das linhas desenhadas no caderno de nossa existência. A cristalina certeza de ontem é o hoje a opaca dúvida que nos atormenta. As lânguidas demonstrações e juras de amor que vão dormir acesas acordam cinzas langorosas de indiferenças. Porque o mundo gira e porque a vida treme, já não temos mais tanta certeza da certeza. A única certeza é a certeza de nossas dúvidas.
Na geografia dos eventos de nossa vida, com montanhas de alegrias em dias ensolarados ou vales de lágrimas com trovoentas chuvas, demoramos a aprender que de tudo a essência é o amor, em suas variadas incorporações. Dentre elas, a que hoje encontra luz sob o holofote do enredo da minha vida chama-se solidariedade.
A solidariedade é a certeza da presença de alguém, tomando chuva com você, ainda que nada ganhe com isso, só para fazer, pela conversa, o sangue continuar circulando e prolongar sua resistência. Solidário é companheiro de chuva.
A solidariedade é o preenchimento da expectativa de que o outro vai retribuir aqueles momentos em que você, calado ou brigando, prostrou-se na frente daquela batalha, porque acreditava em uma causa, a mesma causa de quem hoje com a mesma verve prostra-se ao seu lado. Solidário é companheiro de trincheira.
A solidariedade é aquela voz inaudível de defesa no meio da gritaria estridente de acusações. É a manifestação eloquente, ainda que silenciosa, da presença solidificante na sustentação em meio aos fortes ventos de tempestade criados por articulações maléficas dos que só se solidarizam para fazer o mal, o que não é solidariedade, mas cumplicidade. Solidário é companheiro de voz.
A solidariedade é espontânea. Vem por convicção e não por remorso. Solidariedade que não é espontânea cessa e titubeia na volta da primeira ameaça, recolhendo-se novamente, assustada, e indo para onde nunca deveria saído, no recôndito da tibieza. É uma ilusória gota d’água para quem está à morte com sede no deserto. Solidário é companheiro de sinceridade.
A solidariedade é atemporal e ubiquitária. Sua presença quando necessária chega viajando distâncias temporais e geográficas, assinadas por pessoas queridas distantes do presente, mas presentes no passado, distantes do olhar, mas próximas na retina afetiva. Solidário é companheiro da vida e de vida.
Tomar chuva na trincheira, gritar pelo outro até perder a voz por vontade própria, quando e onde estiver, a hora em que for preciso. Isso é ser solidário. A solidariedade é capacidade de fazer sólido quem de solidez necessita. Parece contraditório, mas cristal é a matéria-prima da solidariedade. Se trinca por hesitação nem mesmo o mais perfeito artesão, que é o tempo, é capaz de remover as estrias. Nem o tempo.
A vida é vivida a partir de parâmetros. Configuramos e reconfiguramos valores e conceitos ao sabor das linhas desenhadas no caderno de nossa existência. A solidariedade, sem dúvida, é amor. E do tipo mais nobre. Do tipo mais inesquecível. Do tipo mais admirável.
Fonte: site http://blogsergiofreire.wordpress.com/2011/03/31/solidariedade/
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